sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Palavras do Diácono Celso Majoral 08/02/2013

Olá irmãos,  no seu post de hoje , o diácono Celso Majoral quer nos mostrar a importância e o verdadeiro sinal que representa para nós católicos ,a importância de celebrar como um dia especial , no sinal do Cristo vitorioso ...

Cinzas: sinal do Cristo vitorioso


Os primeiros cristãos celebravam a Páscoa do Senhor a cada domingo. Porém, escolheram um domingo, para ser o Domingo maior, que representasse os demais e fosse a celebração anual da Páscoa do Senhor. Surgiu, como expressão máxima da celebração anual da Páscoa do Senhor, centro de toda a vida eclesial, a Vigília Pascal, a mãe de todas as Vigílias. Festa tão grande e importante, que tem dois desdobramentos. O que a segue é o Tempo Pascal. O Aleluia da Vigília Pascal ressoa por mais 50 dias até a Solenidade de Pentecostes. E um momento anterior, o tempo da Quaresma, 40 dias de preparação para a Vigília. Tais desdobramentos formam o Ciclo Pascal.
Por conseguinte, a celebração da quarta-feira de cinzas marca, portanto, o início de nossa caminhada preparatória para a celebração da Páscoa do Cristo total: cabeça e membros. Páscoa de Cristo e dos cristãos. Mas por que as cinzas, para iniciar a Quaresma, o caminho para a Páscoa?
Na versão da Bíblia, pela tradução dos LXX, pó e cinzas são sinônimos. Daí, as cinzas recordam primeiramente a condição humana. Em Gn 2,7, o homem é modelado do pó da terra. Somos seres frágeis e efêmeros. A origem e destino do ser humano é pó. Ao mesmo tempo o homem é tudo: imagem e semelhança de Deus, e senhor da criação. As cinzas lembram a concreta realidade da existência humana, vivemos em meio ao tudo e ao nada. Não devemos nos deixar enganar pelo senhorio sob a criação, mas encher-nos todos de humildade, húmus: terra. Somos apenas pó e cinzas (Eclo 17,32; Ecle 3,20; Sl 104 (103), 29). As cinzas são uma proposta de assumir com seriedade a condição humana.
As cinzas eram usadas pelo povo de Deus no Antigo Testamento para expressar a atitude interior de penitência, atitude de conversão. Como exemplo, o profeta Jonas: Nínive, diante da pregação do profeta, fez penitência e o rei sentou-se sobre a cinza (Jn 3,5-6). E outros inúmeros exemplos: 1Sm 4,12; 2Sm 1,2; Est 4,1. Josué que com os anciãos de Israel jogaram pó sobre a cabeça (Js 7,6). Israel que chorava seu luto e se reparava do mal, revestindo-se no pó (Jr 6,26). Para Ezequiel a paga do pecado é com cinza (Ez 28,18). O pecador se confessa com pó e cinza e senta-se sobre ela (Gn 18, 27; Jó 42,6; Mt 11,21) e com ela cobre a cabeça (Jd 4,11-15; 9,1; Ez 27,30). As cinzas também representavam oração de súplica a Deus pela salvação (Jt 4,11; 9,1; 2Mc 10,25).  No início da vida da Igreja, apenas os inscritos na Ordem dos Penitentes usavam as cinzas, em sinal de penitência pública, até a Quinta-feira Santa quando o bispo os absolvia. A partir do século XII, já extinta a Ordem dos Penitentes, todos os cristãos passaram a receber a imposição das cinzas. Toda a comunidade se reconhecia pecadora e havia ajuda mútua no processo de conversão.
O missal apresenta duas fórmulas para a imposição das cinzas, o ministro diz: “Lembra-te que tu és pó e ao pó voltarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A primeira se inspira em Gn 3,19 e a segunda em Mc 1,15. Ambas se completam, recorda ao ser humano sua fragilidade e aponta para a atitude da conversão a Cristo e a seu Evangelho, própria da Quaresma. Somente quando o homem reconhece que é pó, que faz parte da terra, é limitado, mortal, pecador, e que tudo o mais provém de Deus, é gratuidade de Deus, novamente a vida surge desse pó. Lembra que ser cristão é algo sério, que exige fortaleza e supõe uma luta contra o mal (oração da coleta da missa da quarta-feira de cinzas).
Com efeito, Jesus aceitou descer à sepultura, ao pó da terra; por isso seu nome foi exaltado por Deus acima de todo nome (Fl 2,9). Assim, as cinzas impostas sobre nossas cabeças, no início da Quaresma, preparam-nos para celebrar a Páscoa e manifestam uma confissão pública, por parte da Igreja, de sua condição de pecadora. O pecador não esconde o pecado, rompe o orgulho, confessando que não passa de pó e cinza, experimenta o nada. Cobrindo-se com cinzas, confessa a misericórdia de Deus e a atrai para si.
Dois eventos manifestam o conteúdo simbólico das cinzas. Primeiro é a ritualidade da imposição das cinzas. Independente de ser numa celebração Eucarística ou da Palavra, a imposição das cinzas é depois da Leitura da Sagrada Escritura e da Homilia, assim, a Palavra de Deus nos convida à conversão. Conversão que tem uma meta expressa na oração da bênção das cinzas: “chegar de coração limpo à celebração do Mistério Pascal de Jesus” (primeira oração); “assim podermos alcançar, à imagem de teu Filho Ressuscitado, a vida nova de teu reino” (segunda oração). Com a imposição das cinzas, sinal de penitência, a Igreja, comunidade dos cristãos, unida a Jesus Cristo, inicia sua subida para Jerusalém, pressurosa de estar livre do pecado e do mal, e cheia da vida nova da Páscoa. Nesta subida, precisa intensificar sua oração, jejuar para dar espaço a Deus e crescer na humildade pela caridade.
Outra fonte da espiritualidade das cinzas é a sua origem. As cinzas são da queima das palmas, os ramos, da procissão do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, do ano anterior. Portanto, as cinzas recorda-nos o Cristo vitorioso sobre a morte. O ramo é símbolo de vitória e de triunfo. Todavia, se os cristãos aceitam e se reconhecem pó, ou seja, passam pela experiência da morte a exemplo de Cristo, pela renúncia de si mesmos, participarão também da vida que ressurge das cinzas. É difícil ser cinza, mas a fé em Cristo ressuscitado faz com que a nossa vida ressurja das cinzas. Jesus Cristo faz nascer vida, onde o ser humano se reconhece como criatura, necessitado da ação de Deus.
Pela imposição das cinzas entramos numa atitude pascal de renovação da vida. A imposição das cinzas é a celebração da vocação do ser humano, chamado à imortalidade feliz, contanto que deixe Deus agir em sua vida, realizar o mistério pascal de Cristo em sua vida pela graça do Batismo. As cinzas são para renovarmos e aprofundarmos os laços com Deus que o nosso batismo estabeleceu. Para chegar a esta vitória, fidelidade à aliança batismal, teremos que passar pelo fogo purificador do egoísmo, que aniquila o orgulho. Fogo que na Vigília Pascal vem iluminar nossa vida, dissipar as trevas. As cinzas, desse começo de Quaresma, são de ressurreição. Cinzas pascais. Recorda-nos que a vida é cruz, morte, renúncia. Pela Cruz, Jesus foi exaltado à vida definitiva, pela cruz, os cristãos são incorporados à corrente de vida pascal de Cristo.
A Quaresma torna-se, pelo seu início com cinzas, “sinal eficaz” da Páscoa. Cinzas são uma passagem da morte para a vida. A cinza é símbolo de que participamos na cruz de Cristo. À semelhança da cruz de Cristo, com sua expressão de morte e fracasso, nos garante a páscoa da vida nova, que as cinzas, ao recordar nossa fragilidade e pecado, permitam Deus agir em nós. Incorporar-nos à ressurreição do seu Filho e nos lavar com a água batismal da Páscoa. Que nosso barro hoje, pelo Espírito de Deus, que outrora ao soprar fez do boneco de barro um ser vivente e ressuscitou Jesus dos mortos, faça de nós novas criaturas, seres ressuscitados para uma vida nova em Cristo e por Cristo. Quem, pelas cinzas, confessa o próprio nada, ouve do Messias a promessa de que ele vem triunfar do pecado e da morte, “consolar os afligidos, os afligidos de Sião; para mudar sua cinza em coroa, seu luto em perfume de festa” (Is 61-2s).


Diácono Celso Majoral


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