Olá irmãos, no seu post de hoje , o diácono Celso Majoral quer nos mostrar a importância e o verdadeiro sinal que representa para nós católicos ,a importância de celebrar como um dia especial , no sinal do Cristo vitorioso ...
Cinzas: sinal do Cristo vitorioso
Os
primeiros cristãos celebravam a Páscoa do Senhor a cada domingo. Porém,
escolheram um domingo, para ser o Domingo maior, que representasse os demais e
fosse a celebração anual da Páscoa do Senhor. Surgiu, como expressão máxima da
celebração anual da Páscoa do Senhor, centro de toda a vida eclesial, a Vigília
Pascal, a mãe de todas as Vigílias. Festa tão grande e importante, que tem dois
desdobramentos. O que a segue é o Tempo Pascal. O Aleluia da Vigília Pascal
ressoa por mais 50 dias até a Solenidade de Pentecostes. E um momento anterior,
o tempo da Quaresma, 40 dias de preparação para a Vigília. Tais desdobramentos
formam o Ciclo Pascal.
Por
conseguinte, a celebração da quarta-feira de cinzas marca, portanto, o início
de nossa caminhada preparatória para a celebração da Páscoa do Cristo total:
cabeça e membros. Páscoa de Cristo e dos cristãos. Mas por que as cinzas, para
iniciar a Quaresma, o caminho para a Páscoa?
Na versão da Bíblia, pela tradução dos LXX, pó e cinzas são
sinônimos. Daí, as cinzas recordam primeiramente a condição humana. Em Gn 2,7,
o homem é modelado do pó da terra. Somos seres frágeis e efêmeros. A origem e
destino do ser humano é pó. Ao mesmo tempo o homem é tudo: imagem e semelhança
de Deus, e senhor da criação. As cinzas lembram a concreta realidade da
existência humana, vivemos em meio ao tudo e ao nada. Não devemos nos deixar
enganar pelo senhorio sob a criação, mas encher-nos todos de humildade, húmus: terra. Somos apenas
pó e cinzas (Eclo 17,32; Ecle 3,20; Sl 104 (103), 29). As cinzas são uma
proposta de assumir com seriedade a condição humana.
As cinzas
eram usadas pelo povo de Deus no Antigo Testamento para expressar a atitude
interior de penitência, atitude de conversão. Como exemplo, o profeta Jonas:
Nínive, diante da pregação do profeta, fez penitência e o rei sentou-se sobre a
cinza (Jn 3,5-6). E outros inúmeros exemplos: 1Sm 4,12; 2Sm 1,2; Est 4,1. Josué
que com os anciãos de Israel jogaram pó sobre a cabeça (Js 7,6). Israel que
chorava seu luto e se reparava do mal, revestindo-se no pó (Jr 6,26). Para
Ezequiel a paga do pecado é com cinza (Ez 28,18). O pecador se confessa com pó
e cinza e senta-se sobre ela (Gn 18, 27; Jó 42,6; Mt 11,21) e com ela cobre a
cabeça (Jd 4,11-15; 9,1; Ez 27,30). As cinzas também representavam oração de
súplica a Deus pela salvação (Jt 4,11; 9,1; 2Mc 10,25). No início da vida
da Igreja, apenas os inscritos na Ordem dos Penitentes usavam as cinzas, em
sinal de penitência pública, até a Quinta-feira Santa quando o bispo os
absolvia. A partir do século XII, já extinta a Ordem dos Penitentes, todos os
cristãos passaram a receber a imposição das cinzas. Toda a comunidade se
reconhecia pecadora e havia ajuda mútua no processo de conversão.
O missal
apresenta duas fórmulas para a imposição das cinzas, o ministro diz: “Lembra-te
que tu és pó e ao pó voltarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A
primeira se inspira em Gn 3,19 e a segunda em Mc 1,15. Ambas se completam,
recorda ao ser humano sua fragilidade e aponta para a atitude da conversão a
Cristo e a seu Evangelho, própria da Quaresma. Somente quando o homem reconhece
que é pó, que faz parte da terra, é limitado, mortal, pecador, e que tudo o
mais provém de Deus, é gratuidade de Deus, novamente a vida surge desse pó.
Lembra que ser cristão é algo sério, que exige fortaleza e supõe uma luta
contra o mal (oração da coleta da missa da quarta-feira de cinzas).
Com
efeito, Jesus aceitou descer à sepultura, ao pó da terra; por isso seu nome foi
exaltado por Deus acima de todo nome (Fl 2,9). Assim, as cinzas impostas sobre
nossas cabeças, no início da Quaresma, preparam-nos para celebrar a Páscoa e
manifestam uma confissão pública, por parte da Igreja, de sua condição de
pecadora. O pecador não esconde o pecado, rompe o orgulho, confessando que não
passa de pó e cinza, experimenta o nada. Cobrindo-se com cinzas, confessa a
misericórdia de Deus e a atrai para si.
Dois
eventos manifestam o conteúdo simbólico das cinzas. Primeiro é a ritualidade da
imposição das cinzas. Independente de ser numa celebração Eucarística ou da
Palavra, a imposição das cinzas é depois da Leitura da Sagrada Escritura e da
Homilia, assim, a Palavra de Deus nos convida à conversão. Conversão que tem
uma meta expressa na oração da bênção das cinzas: “chegar de coração limpo à
celebração do Mistério Pascal de Jesus” (primeira oração); “assim podermos
alcançar, à imagem de teu Filho Ressuscitado, a vida nova de teu reino”
(segunda oração). Com a imposição das cinzas, sinal de penitência, a Igreja,
comunidade dos cristãos, unida a Jesus Cristo, inicia sua subida para
Jerusalém, pressurosa de estar livre do pecado e do mal, e cheia da vida nova
da Páscoa. Nesta subida, precisa intensificar sua oração, jejuar para dar
espaço a Deus e crescer na humildade pela caridade.
Outra
fonte da espiritualidade das cinzas é a sua origem. As cinzas são da queima das
palmas, os ramos, da procissão do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, do
ano anterior. Portanto, as cinzas recorda-nos o Cristo vitorioso sobre a morte.
O ramo é símbolo de vitória e de triunfo. Todavia, se os cristãos aceitam e se
reconhecem pó, ou seja, passam pela experiência da morte a exemplo de Cristo,
pela renúncia de si mesmos, participarão também da vida que ressurge das
cinzas. É difícil ser cinza, mas a fé em Cristo ressuscitado faz com que a
nossa vida ressurja das cinzas. Jesus Cristo faz nascer vida, onde o ser humano
se reconhece como criatura, necessitado da ação de Deus.
Pela
imposição das cinzas entramos numa atitude pascal de renovação da vida. A
imposição das cinzas é a celebração da vocação do ser humano, chamado à
imortalidade feliz, contanto que deixe Deus agir em sua vida, realizar o
mistério pascal de Cristo em sua vida pela graça do Batismo. As cinzas são para
renovarmos e aprofundarmos os laços com Deus que o nosso batismo estabeleceu.
Para chegar a esta vitória, fidelidade à aliança batismal, teremos que passar
pelo fogo purificador do egoísmo, que aniquila o orgulho. Fogo que na Vigília
Pascal vem iluminar nossa vida, dissipar as trevas. As cinzas, desse começo de
Quaresma, são de ressurreição. Cinzas pascais. Recorda-nos que a vida é cruz,
morte, renúncia. Pela Cruz, Jesus foi exaltado à vida definitiva, pela cruz, os
cristãos são incorporados à corrente de vida pascal de Cristo.
A
Quaresma torna-se, pelo seu início com cinzas, “sinal eficaz” da Páscoa. Cinzas
são uma passagem da morte para a vida. A cinza é símbolo de que participamos na
cruz de Cristo. À semelhança da cruz de Cristo, com sua expressão de morte e
fracasso, nos garante a páscoa da vida nova, que as cinzas, ao recordar nossa
fragilidade e pecado, permitam Deus agir em nós. Incorporar-nos à ressurreição
do seu Filho e nos lavar com a água batismal da Páscoa. Que nosso barro hoje,
pelo Espírito de Deus, que outrora ao soprar fez do boneco de barro um ser
vivente e ressuscitou Jesus dos mortos, faça de nós novas criaturas, seres
ressuscitados para uma vida nova em Cristo e por Cristo. Quem, pelas cinzas,
confessa o próprio nada, ouve do Messias a promessa de que ele vem triunfar do
pecado e da morte, “consolar os afligidos, os afligidos de Sião; para mudar sua
cinza em coroa, seu luto em perfume de festa” (Is 61-2s).
Diácono Celso Majoral